Santiago Peña foi eleito presidente do Paraguai com 43% dos votos válidos. Não há segundo turno no país.
No domingo, dia 30 de abril de 2023, os paraguaios foram às urnas para decidir quem seria o novo chefe do Poder Executivo do país. E Santiago Peña, do Partido Colorado, consagrou-se como novo mandatário.
Com posse prevista para agosto deste ano, Peña já vinha sendo apontado como um dos principais representantes do Partido Colorado, agremiação política de centro-direita.
Desde 1976, a única vez em que esta legenda política perdeu oficialmente as eleições presidenciais foi em 2008, quando o ex-bispo católico Fernando Lugo logrou-se vencedor do pleito.
Lugo foi destituído pela Câmara dos Senadores do Paraguai em 2012, por meio de um processo de impeachment que durou pouco mais de 24 horas, e que foi considerado legítimo pelo Tribunal Superior Eleitoral do país, e ilegítimo pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ocasionando assim, um certo isolacionismo do país.
O perfil do novo Presidente: um Raio-X
Santiago Peña Palacios tem, atualmente, 44 anos. É economista, e realizou o curso de Mestrado em Administração Pública na Columbia University, nos Estados Unidos.
Profissionalmente, já trabalhou em cargos de liderança para o Banco Central do Paraguai, e para o Fundo Monetário Internacional (FMI), em que esteve alocado no Departamento Africano.
O presidente eleito tem o perfil de um tecnocrata, com vasto e consolidado reconhecimento na área de Teoria Econômica, já tendo inclusive lecionado as disciplinas “Teoria Econômica” e “Teoria Financeira” para a comunidade acadêmica da Universidade Católica de Assunção (UCA), sua alma mater.
Segundo o seu perfil profissional, Santi, como é chamado, também teve breve passagem pelo setor privado, período em que atuou no Banco Basa.
Seu nome ganhou maior repercussão política no Paraguai a partir de 2012, quando, a convite do então mandatário Horácio Cartes - considerado o seu padrinho político - tornou-se Ministro da Fazenda.
Permaneceu no cargo até 2017, mesmo ano em que concorreu, sem êxito, nas eleições internas do Partido Colorado.
Como promessa de campanha, afirmou que irá trabalhar para oferecer mais “dinheiro no bolso” dos paraguaios, por meio de programas de geração de empregos, e de maior investimento na PETROPAR (Petróleos Paraguayos), equivalente à nossa PETROBRAS.
Este é um tema bastante relevante para a economia de um país que, sendo dependente da exportação de soja, carne bovina e eletricidade, cresceu apenas 0,2% em 2022, com uma inflação de 8,1% ao ano.
Ao celebrar o triunfo de ter logrado a Presidência, Santiago Peña apelou à união e ao consenso, como meios de garantir a estabilidade do país.
Polêmicas envolvendo o nome de Santiago Peña
Como já mencionado anteriormente, o Presidente eleito é apontado como afilhado político do ex-presidente Horacio Cartes, empresário do ramo de tabaco e governante do país entre os anos 2013 e 2018.
O ex-presidente, que já teve vetada a sua entrada nos Estados Unidos, sob alegação de “atos significativos de corrupção”, teria obstruído uma grande investigação internacional sobre crimes transnacionais, a fim de proteger a si próprio e seus parceiros de possíveis danos políticos. Um desses crimes seria pela suposta ocultação de um caso de lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato.
Cartes jamais confirmou as acusações que lhe foram imputadas. Pelo contrário, ele as nega veementemente e afirma que vem sofrendo perseguições políticas. Além disso, segundo a equipe de defesa do ex-presidente, as alegações do Departamento de Estado dos Estados Unidos estão baseadas em lobby político de oposicionistas internos.
Apesar das acusações, Cartes, em seu mandato, conseguiu, minimamente, agradar o governo estadunidense, ao transferir a Embaixada de Israel para Jerusalém. A decisão foi revertida pelo seu sucessor, Mario Abdo Benítez - os dois são de alas opostas do Partido Colorado.
Mesmo que indiretamente, as alegações de que Cartes teria ligações com esquemas de corrupção pode ser um empecilho para o aprofundamento das relações do novo presidente eleito, Santiago Peña, com Joe Biden, presidente estadunidense.
No que tange às relações internacionais, Santi afirma que não pretende revisar a parceria que o Paraguai mantém com Taiwan.
Vale lembrar que este é um tema sensível, uma vez que o governo chinês, assim como muitos organismos internacionais, vê Taiwan como parte inalienável da China.
Esta questão, entretanto, pode ser um posicionamento difícil de manter: tanto internamente, considerando que os produtores paraguaios miram a República Popular da China para a expansão de seus negócios agrícolas, como externamente. O resultado desta (possível) política ainda está em definição.
As relações Brasil-Paraguai
A política externa paraguaia está intimamente ligada às questões políticas internas do país, o que significa que suas relações com o Brasil - um importante parceiro bilateral - são influenciadas pelas tensões políticas internas do país vizinho. Além disso, as relações bilaterais entre os dois países têm mostrado uma aproximação gradual ao longo do tempo.
De maneira contemporânea, ambos os países se aproximaram mais intimamente durante a chamada “onda rosa” latino-americana, movimento pelo qual ficou conhecida a ascensão de governos de esquerda na América Latina, a exemplo dos governos de Luiz Inácio “Lula” da Silva, no Brasil, que permaneceu no cargo entre os anos 2003 e 2011, e o ex-bispo católico Fernando Lugo, ex-presidente paraguaio, que permaneceu no mandato entre os anos 2008 e 2012, destituído por um processo de impeachment.
Em maio de 2022, na ocasião do falecimento, em virtude de um atentado, do então prefeito de Juan Pedro Caballero (município paraguaio que faz divisa com Dourados, no lado brasileiro), José Carlos Acevedo, as respostas, em termos de cooperação entre ambos países, foram rápidas e não tardaram.
Paraguai e Brasil são parceiros comerciais bilaterais relevantes e mantêm diversos acordos. Dentre eles, a manutenção da Itaipu Binacional.
Manifestações internas
Assim como no Brasil, também houve uma parte dos eleitores que não se sentiu representada pelo resultado das urnas. Desde o anúncio do resultado do pleito, em 30 de abril, apoiadores do terceiro candidato mais votado, (Paraguayo) Payo Cubas, têm se mobilizado nas ruas, alegando que o resultado das eleições foi fraudado.
Cubas, apontado como um Bolsonaro wannabe, tem insurgido a população contra o presidente eleito, e por meio da utilização de táticas políticas, vem instrumentalizando as manifestações a seu favor.
Cubas já protagonizou cenas que são, no mínimo, polêmicas, como ter arremessado água no rosto de um colega no meio de uma sessão da chamada Cámara Alta, o Senado do país, e acabou destituído do cargo de Senador.
Apesar de ter um posicionamento político mais alinhado com a direita, Cubas já falou em legalizar a maconha no Paraguai e defendeu a reforma agrária, como lembrou, ao ser entrevistado para a BBC, o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP), Pedro Feliú Ribeiro.
Até o momento, o Ministério Público do Paraguai abriu investigações para apurar manifestações violentas e identificar os envolvidos.
Não há qualquer indício de que tenha havido fraude nas eleições paraguaias.
As eleições paraguaias utilizam urnas eletrônicas, com impressão de votos.
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